terça-feira, 29 de julho de 2008

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Carta para o Algarve...

Começo esta carta logo a pedir-lhe desculpa, mas muito sinceramente não tenho tido oportunidade de lhe escrever. Sim é verdade que quando tenho oportunidade sou demasiado egoísta no meu cansaço para o fazer. Bom mas vamos parar com estas coisas e falar do que é importante.
Como é que têm andado as suas pernas? Sem bengala espero! E esses olhos que tal? Desde que foi operada às cataratas que vê como uma rapariga nova. Tem dado as suas voltinhas? E a identificação? Leva-a sempre ao pescoço como combinado? Não se esqueça de ir logo de manhãzinha pelo fresco, e... de tomar o pequeno almoço para não se sentir mal.
Eu?!!! Eu estou como sempre, a trabalhar, um dia depois do outro, e à espera das férias para a ir visitar. Prometo que desta vez a minha visita durará mais que quinze minutos, e que dará tempo para fazer as suas (nossas) fatias douradas, com um chá de tília a ferver que durará duas horas e um quarto a ser bebido. Sempre acreditei que me fazia o chá tão quente de propósito, para ficarmos os dois na conversa a tarde toda, a falar da sua vida. As horas passavam connosco a passear pela sua vida, eu ainda tinha muito pouca, e a que viria a ter ficaria em grande parte influenciada pela sua, com chá, fatias douradas, torradas com doce, daquele doce que só as longas tardes com as avós fazem sentido.
Esta carta vai já para o correio, mas amanhã continuamos.

Vida de Livreiro

- Ora...Boa tarde. Tem livros sobre cães?
- Temos sim.
- Quer dizer eu não quero um guia!... Tipo livros com histórias.
- Temos o...
- Sem ser o Marley.
- Compreendo.
- O Manuel Alegre tinha um.
- "Cão como Nós".
- Isso, mas ele tem outros de cães.
- Olhe que não.
- Está bem eu levo esse.
Torna-se difícil ter um lanche neste hospital, quando pensamos que o Manuel Alegre além de tudo ainda escreve livros. E como não bastasse, sobre e para cães.
Vou no chá senhora enfermeira, com pouco açúcar claro.

sábado, 26 de julho de 2008

cigarros

Ainda que todas as pneumonias deste mundo passem pelos pulmões deste homem, a sua fotografia terá sempre um cigarro na ponta dos lábios. E tudo isto, esta sentença acabada assim de ser proclamada é o que se chama uma verdadeira tristeza.
As fotografias têm cigarros clássicos, que são chiques, no tempo em que fumar era um hábito, não um mau hábito. Fumava-se porque sim, porque se gostava e se era gostado, saboreado pelas mulheres que nos viam de cigarros, com cigarros, engolidos em cigarros.
As beatas que aparecem nestas fotografias não eram sujas ou nojentas, ou mesmo anti-sociais. Beatas não eram ossos ou espinhas, não eram restos nojentos, vísceras de qualquer coisa. Beatas eram... beatas românticas que eram atiradas demoradamente para o passeio, sem problemas higiénicos.
Tenho tantas saudades desse tempo, tantas saudades dos cigarros que não faziam absolutamente mal nenhum.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Uma Senhora morreu

No outro dia disseram aqui nos corredores que a Dona Rita tinha morrido. Depois da noticia houve um grande silêncio, um silêncio constrangedor, com algumas lágrimas à mistura.
A Dona Rita não falava muito, não era especialmente simpática, ou afável, mas usava um carrapito que lhe oferecia uma dignidade de 6.9 na escala de richter. Agora só fica o cheiro do perfume da Dona Rita aqui no hospital, e um quarto com duas mulheres da limpeza, a tratar de oferecer uma velha morada, de uma velha Senhora, a alguém.

O poder do autor

vive no interior da "autoridade" que ele mesmo representa enquanto dono de uma chamada novidade qualquer.É necessário que se tenha como novo o que se dá, ou vende, nos interstícios das ideias.


O Trio Wanderer é o exemplo da possibilidade interpretativa com autoridade.
O intérprete como autor pois então.


quarta-feira, 23 de julho de 2008

Antes do almoço, ouçam lá esta.

Ora estão prestes a ouvir uma das melhores covers já alguma vez feitas. Nada como este manancial de bom gosto (por parte dos intérpretes, não meu) para aguçar o apetite. Ou se calhar não é nada disto.
Bom almoço.


sábado, 19 de julho de 2008

Depois do jantar

Já tomei os medicamentos e as senhoras enfermeiras estão a apagar as luzes lentamente, umas depois das outras. Está a ficar tudo muito silencioso.
Não tenho sono ainda e recuso-me a desligar a minha luz da cama, na verdade ninguém mo pede, o que não impede o desejo que o fizessem.

Por mais que se faça esta música toca no quarto.

o barulho que se faz sentir


Depois de tanto tempo...


Depois de tanto tempo poderei começar a escrever. Penso, sem certeza...
O tudo ou nada que aqui irá desfilando será uma alegre pneumonia, doença de burguês, dandy...


Estou apreensivo com isto tudo...


A enfermeira esteve aqui à bocadinho, mudou o cateter e a garrafa de soro.


mais três horas no ninguém, está calor!Há bicha no tabuleiro da ponte, ela antes de sair abriu a janela e afastou o cortinado. É tão simpática a senhora enfermeira que deixa o seu homem em casa para cuidar dos outros. Para cuidar de mim.