quarta-feira, 2 de junho de 2010

Na grua a pensar em Proust.


Agarra na grua e levanta um edifício, pensa no ordenado, evita a tontura. Desce da grua, requer habilidade, tem-na e sabe-o. Pega na mochila, tira a sandocha e o Sumol, garganta aberta, borbulhas, nectarina, o cigarro em cima da mão, cigarro não, a mortalha, e requer habilidade, tem-na. É um habilis desvalioso, uma espécie descartável no plano urbanístico triunfante.
Horas de subir a grua, requer vontade, a jorna no osso occipital, conta até 17, a vontade em números primos, tem-na. Roda o monstro amarelo, o rio lá ao fundo, a chuva a bater no dito, faz frio, intempérie nas obras.
Almoço.
Abre a mochila, requer saber, tem-no. Nascem nas suas mãos feijão com arroz, o mesmo de ontem, o de amanhã. Arrota, tem vontade. Bebe água. Pensa no ordenado, precisa de vontade, tem-na.
Turno da tarde, fecha a sacola, sobe o guindaste, e lembra-se como proust pode mudar a sua vida.

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