segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Laura

Ela vivia no momento em que ele se afastou. Foi num Domingo de manhã “ não fujas de mim”, não respondeu, de mala às costas partiu com um cigarro na boca. Abandonou-a sem nada dizer; um gesto; aceno; nada. “ Não me deixes”, lágrimas a correrem-lhe pela camisa de dormir, olhos inchados, pretos, duas enormes bochechas orbitais repletas de dor; foi o fim para Laura. Entregou-se à bebida, aos amores fáceis, lentamente se abandonou. Eram as camas improvisadas que lhe secavam os salgados olhos mortiços, momentos em que se sentia amada “cada vez és melhor”, e ela deliciada, vinho nos lábios gretados “ és tão bom para mim”.
A Laura envelheceu sozinha, agradecendo à aldeia pelo amor que lhe devotava. Morreu como a “Laurinha boa foda”, sem visitas, lágrimas e velório. O único presente no enterro, foi um homem de cigarro na boca, mala às costas, e um adeus nas mãos “eu amava-te demasiadamente para ficar”. As cordas desceram, Laura foi enterrada outra vez, agora para sempre

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