Naquele tempo a cidade estava cheia de sociedades recreativas, com mulheres lá dentro, sentadas à espera de uma dança. Os maridos − que no bar da sociedade eram solteiros – bebiam, embebedavam-se uns com outros, todos eles sem mulheres ou filhos. Os homens brincavam aos meninos grandes, e os brinquedos eram minis geladas, chupetas nos beiços, com grandes bigodes por cima. Homens que levavam as suas “marias a dar uma voltinha”, “marias” em quietude nas suas cadeiras. Todas elas maquiadas, com roupas domingueiras, perscrutando o agrupamento musical, que tocava para uma pista de dança vazia. Mulheres que eram apenas “marias” de seus homens; mulheres com os seus filhos numa longa espera.
Os meninos pequenos brincavam uns com os outros, oferecendo às suas mães um ofício, que era o de olhar por eles. Meninos e mães eram a perfeita e única companhia no baile. Mães que nunca retiraram os seus filhos de dentro de si, vivendo um com o outro, pelo outro, dentro do outro. E os pequenos caiam um a um em cima do colo das mães, que lhes passavam as mãos pelo cabelo, pelo tronco, afagando-os como crias que eram.
A cidade de mães e filhos esquecidos, com homens solteiros a jogar à lerpa na mesa da vida dos outros, que afinal era dos seus.
Kim Deal, Opus 1
Há 7 horas
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