Os meninos jogavam à bola no adro da Igreja, um campo de futebol religioso, com uma baliza, só uma. Era enorme, de madeira trabalhada com postes e barra góticos – eles não sabiam nada destas coisas. A cada golo, um barulho magnânimo, transcendente, “daqui para fora, já” e a rapaziada aos pulos, erguendo os braços ao ar, a Deus “ não os quero aqui”, não era Ele que os escorraçava, mas sim o seu representante, o bondoso senhor prior.
Durante meses a fio o adro era o lar da pequenada “ gira daqui para fora”, até que um dia, perante tais ameaças divinas, abandonaram o campo de futebol religioso com a sua bola de cate chumbo. Eles e as camisolas de malha − tricotadas pelas mães e avós −, desceram as escadas do promontório sagrado da cidade, sem olhar para trás, sem cruzarem olhares entre eles, ressentidos, envergonhados. Afastaram-se da Igreja, até hoje.
Kim Deal, Opus 1
Há 7 horas
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