sábado, 14 de agosto de 2010

Acabou.

Podia ser a crónica de uma morte anunciada; mas não há crónica na manga: este espaço encerrou de vez.



domingo, 11 de julho de 2010

O jardim do tribunal

Um dia gostava de não ser: deprimente e monótono; é uma subespécie de espécie de desejo, para o qual não tenho − e aqui, e agora sou categórico − , jeito. Portanto, para quem se predispõe a ler estes textos, fica o aviso: são aborrecidos, não por si – não têm culpa, coitados − , mas pelo seu autor; que é um gajo dado à chuva, ao vento, e à monotonia. No entanto, o autor, dispõe da plena consciência desse facto, o que joga – pelo menos isso –, a seu favor.


Ora então aqui vai:


A canícula tem afectado o comportamento dos dias, nos dias, e eu procuro passar incólume à estrela amarela, ela persegue-me, respira para cima da minha testa, sinto o seu hálito pestilento “ Sai daqui cabra “, tento uma sombra. Ando de manga comprida, camisa de manga comprida, abotoada até segundo botão a contar de cima para baixo; como quem está da garganta para o umbigo, não arregaço as mangas, é feio, ordinário, fica mal. Mangas arregaçadas é que não, talvez ao fim de semana, talvez a caminho de casa ao sair do trabalho “ Sai daqui”, talvez numa esplanada com um mau livro – nunca um bom livro, fica mal. Se as camisas têm botões, é para serem abotoados, esteja frio ou calor, no vento ou no suor: suo de mangas atadas; será sempre acima. Ponto.
Ora voltando aos dias, e abandonando a indumentária, lá vamos nós, ao sol, a cheirar a desodorizante, quilos desta matéria, que todas as manhãs após o duche – isto é sempre importante: baptismo matinal − , fricciono; esfrego; castigo, e espanco nos sovacos – eu não queria voltar à questão da indumentária, a sério, mas avisei-os no prefácio do texto: “monótono” − , estragando a cor das minhas camisas. Ora lá vamos nós, mais uma vez tentar o seguimento da ideia, a seguir a este ponto final. É agora: eu vou ao sol, tento alcançar a sombra, porque sempre detestei o sol, como o camelo detesta água, e se não é assim passa a ser, porque temos de seguir, e vem o sol, e eu estou a suar, e a sombra foge à minha frente, eu que sou o homem sombra, ou que gostava de ser, ou se calhar não “ Nunca mais vem o Inverno”, pessoas a bombordo e estibordo, ofegantes, mal cheirosas, suor nos braços desnudados, testas a salpicar, a sombra sempre a fugir, a minha sombra, eu o homem a preto e branco, o oásis na entrada do centro comercial, são trinta e sete passos, eu conto passos como quem conta dinheiro: já está. Ponto. Estou sem o meu reflexo na calçada, esboço um sorriso, só um – dois é de mais − , mostro os dentes carregados de nicotina ao dia, abro a sacola “ Onde é que eu pus o tabaco? Raios ma partam “, puxo do vício, pegou-lhe fogo e penso no jardim, naquele ao pé do tribunal, que cheirava a terra molhada, ao hoje homem, outrora menino, de barrete na cabeça, a brincar com o seu barco no lago. Lá no fundo dos tempos, onde o jardim era o mundo, e o mundo era ao cimo da rua, tudo ali tão perto, a menos, muito menos do que trinta e sete passos “ Nunca mais vem o Inverno”.


P.S: Eu avisei, não avisei?



sábado, 3 de julho de 2010

Batalha de Inglaterra


 


 
Robert Fisk a relembrar a sua guerra de Inglaterra, com Spitfire de brincar à mistura. 70 anos depois, a crónica, a memória fica já aqui.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Supostamente invisível

Hoje comei a desaparecer. Assim, sem mais nem menos, comecei a apagar-me “conversa, é o que é”: primeiro as pontas dos dedos atravessaram o frio glaciar do copo, vidro, eu vidro, eu matéria estranha “ lá estás tu outra vez com as tuas coisas”, eu desconhecido, eu sumo de laranja, eu “ pára já com isso” a brincar com o gás; depois foram as mãos, os braços a entrarem pela mesa, eu já só tronco, costelas encostadas à mesa da cozinha “ mas estavas bêbado, ou quê?”, e comecei a descansar, enquanto olhava sem atenção o Brasil a perder o jogo. O telefone tocou, retocou, ergui-me devagar, sem braços, perscrutei o espaço vazio inclinado numa pose ridícula na bancada da cozinha, a língua fora da boca − sem tocar nos dentes −, a tentar a tecla de atender, lá foi, consegui “ viste o jogo?”, era a J., “ vi”, não consegui dizer-lhe que não tinha membros superiores, seria muito duro para ela “ é pá, isso já não chega?”, eu olho para ti “ se calhar tens razão Amélie, isto não aconteceu. Se calhar não era sumo de laranja”, abanas as tuas orelhas, o espaço que existe entre o seu suposto lugar −já não existiam quando chegas-te à nossa casa pela primeira vez −, lambes-me o espaço que ficou onde estavam as mãos, abanas três vezes a cauda, e deitas-te no sofá, no sítio que era teu quando ainda eras viva. Tudo antes, muito antes, da laranja mecânica pensar na vitória sobre o Brasil, e eu me perder em copos de sumo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Mais um misantropo.



W. S. Merwin, misantropo de categoria, recluso até ao tutano, foi importunado pela biblioteca do congresso, e só pensa que vai ter de abandonar por uns dias Maui, ou então que se lixe " vou ficar por aqui".

Coetzee e o sorriso



O Coetzee que é cá dos meus, poucos sorrisos e tal, nada de confianças; apanhou a populaça distraída, esboçou um sorriso, e o Martin Amis começou a gostar dele, digo eu.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Levantado do chão




Teremos de ir por partes, temos de as dividir, e subdividir, baralhar e voltar a dar.

Parte um:

Temos um cenário de livraria, janelas do chão ao tecto. Expostos ficam livros, clientes e livreiros. Um cenário red light zone, transposto em palco livreiro, com livreiros não holandeses ao serviço dos gostos da cliente culta.
Neste espaço temos cadeiras com mesas onde se sentam estudantes; não compradores; leitores; explicadores, e poucas putas. As putas andam a trabalhar, na arrumação do sitio, a tentativa do mimetismo inerte à profissão a corroer-lhes por dentro, o cigarro que falta, níveis de nicotina a baixar.

Parte dois, acção:

O cabelo a descair nos ombros da cliente “ Tem O Ano da Morte, do Saramago?”, uma fuga no olhar, pigarreia-se “ Estou à espera, foram devolvidos…sabe as coisas funcionam assim”, a clientela não sabe, não quer saber, não tem de saber como as coisas funcionam. Instala-se o silêncio. Entretanto, nos interstícios do momento suspenso, o livreiro de serviço realiza uma fuga no olhar, pensa no cigarro que falta, nas férias no Algarve, nos filhos à beira mar, nos mestre-de-obras que são à canícula “ ponham os bonés”, nos castelos e conventos derrubados pela espuma da maré “ meninos mais para cima, a maré está a encher”, no mais novo a comer areia, nas bolas de berlim “ não tem noutra loja?”, e o livreiro que se moveu duzentos e noventa e três quilómetros, enquanto decorria o silêncio, entrou na A2, saiu na A2, pagou 18 eur, chegou a Lisboa, arrumou o carro, tomou banho, meteu-se no comboio “senhores passageiros, o comboio proveniente de Coina, e com destino a Roma Areeiro, vai entrar na linha dois, pedimos o favor de se afastarem da linha de embarque”, apanhou o metro “ merda ainda não comprei o passe”, e saiu no Saldanha, dá uma volta sobre si mesmo − uma manobra de diversão −, pensa no cigarro “ só um minuto que vou já verificar”, a cliente, rapariga já entrada nos trintas, ar artístico quanto baste para o nosso fumador de engalanar, que entra no balcão “ deixem-me só ver se temos O Ano da Morte de Ricardo Reis na Gulbenkian, ou no Oriente”, o computador teima em não andar, o Algarve a morar na sua cabeça – do nosso trabalhador, claro está −, surge o quadro no monitor, nomes de lojas abreviadas − uma parte −, quantidades existentes de livros por loja – duas partes −, quantidades encomendadas – três partes −, “ Não, não temos em nenhuma loja, mas está encomendado”, ela não agradece, vira as costas tipo Roriz, e o livreiro “ Vou fumar um cigarro”, sai do balcão, desce as escadas, abre as portas para a rua e pespega um Camel com areia nos lábios, e pensa nas alegrias do CDS e PSD, enquanto uma lágrima lhe escorre na face esquerda, ao pensar no levantado do chão, que mora no seu espectro esquerdino.

sábado, 5 de junho de 2010

Está guardado na garagem


Trata-se de um quadro com uma qualidade tal, que é por cima da máquina de lavar o seu lugar.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Let´s go Europe



Stadiongasse, Viena, foi grande a discussão, verborreia da feia “ Acabou Matilde, tou farto desta merda”, eu de lado, mais precisamente diagonal em relação ao conflito “Não vás Luís, não tens mapa”. Ela só gritos, eu calado, farto “ Ele vai-se perder Misantropo, não tem mapa”, bufo para dentro, e, digo para fora um “ Tem calma. Ele não se perde, e já se acalma…pondera e tal”. Ela nada, não me liga patavina, começa a correr atrás do seu amado, eu sozinho com o livro, olho para as minhas mãos “Let´s go europe”, vou.
Reservo um lugar no Expresso do Oriente – à pois é. Sigo para Paris às 18h e 30 m, sozinho, sem dizer nada a ninguém faço-me à Europa, com a policia austríaca atrás de mim. O casalinho entretanto resolveu a contenda e entrou em “pânico”, contactou as autoridades " perdemos um amigo", a bófia austríaca igual a nossa conterrânea, ri. Eu, entretanto com a Europa a nascer-me pelas mãos, num comboio apinhado de gente do outro lado da cortina, aquela que tinha ferro.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Na grua a pensar em Proust.


Agarra na grua e levanta um edifício, pensa no ordenado, evita a tontura. Desce da grua, requer habilidade, tem-na e sabe-o. Pega na mochila, tira a sandocha e o Sumol, garganta aberta, borbulhas, nectarina, o cigarro em cima da mão, cigarro não, a mortalha, e requer habilidade, tem-na. É um habilis desvalioso, uma espécie descartável no plano urbanístico triunfante.
Horas de subir a grua, requer vontade, a jorna no osso occipital, conta até 17, a vontade em números primos, tem-na. Roda o monstro amarelo, o rio lá ao fundo, a chuva a bater no dito, faz frio, intempérie nas obras.
Almoço.
Abre a mochila, requer saber, tem-no. Nascem nas suas mãos feijão com arroz, o mesmo de ontem, o de amanhã. Arrota, tem vontade. Bebe água. Pensa no ordenado, precisa de vontade, tem-na.
Turno da tarde, fecha a sacola, sobe o guindaste, e lembra-se como proust pode mudar a sua vida.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

" Vou ser escritor"

Às vezes baralho-me na sala, gasto as solas dos sapatos que se perdem nos olhares dos livros; que me perscrutam silenciosamente, aparentemente, oferecendo a razão da dor de cabeça. A minha eterna dor. Por vezes ando descalço no cubículo recheado de papelada, a poupar a carteira, ou os sapatos − é a mesma coisa, tudo a mesma coisa. E só Deus sabe como odeio andar descalço, nu, com as letras por dentro das folhas a me espiarem, como se eu fosse um deus voyeur.
“ Quero muito”, e o piano toca, “ quero tanto”, e sou um dissector de material alheio, uma prepotência fina, silenciosa na cidade. “E gostava tanto”, digo de mim para mim sentado. Acendo um Camelo, olho para os dedos magros, espero notícias.
Ela entra.
“ O que é tens estado a fazer?”, e eu a tentar ser uma força criativa, a responder-lhe “nada”. “ Estou a pensar ser escritor”, ponto. Há um vazio na dialogação, um mergulho no vazio.
Aqui se o caro leitor me permitir, terei de ilustrar; pintar o cenário em que decorre este nosso encontro.
O quarto está repleto de estantes preenchidas de livros. Móveis Ikea nas quatro paredes, uma será mestra – a parede. O nosso protagonista − que por acaso, vos fala − está de pé, a olhar para ela. Ela, a sua cadela morta há dois anos, o que não a impede de falar com ele – eu − , não o larga, e ele agradece. E eu agradeço.
Apesar de ela estar no céu, não Céu, tem o hábito da visita, e eu, que sempre me dei bem com costumes, fico à conversa.
“ Escritor, dizes tu. És sempre a mesma coisa.”, encosto-me a ela, faço-lhe festas no focinho, e dou-lhe um beijo nos olhos. “ Olha Amélie, a cama chama-me, vou um bocadinho à Montanha e amanhã… explico-te, falamos”. Ela senta-se, abana a cauda duas vezes, e lambe-me as tatuagens dos braços: dizemos em uníssono um “ Até amanhã”, fecho a porta.
Subo a escada “ Vou ser escritor”, e vou lançando favas na noite. Estou descalço, e sem olhar para trás semeio “ Com estas favas eu me resgato, a mim e aos meus”, e os  Lémures vão resgastando os grãos. Entro na casa de banho, purifico as mãos. Bato no bronze da torneira, e “ Um dia vou ser escritor”.


domingo, 30 de maio de 2010

" Magistral"


 
Na capa pode ler-se " Magistral", palavras do New york Times. Magistral porque escrito por um Magister dos mais altos, Martin Gilbert, guia do leitor, numa viagem diária pelos horrores da 2ª Guerra Mundial.

Magistral... magistral sou eu, isto é outra coisa. E já agora pode encontrá-lo aqui.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Doce fino

A Maria fazia bolinhos de doce fino, para vender para fora. O Artur comia-lhe os cestinhos e peixinhos, que eram para fora, lá dentro.

Vá para fora lá dentro, apoiando o comércio tradicional, de sapatilhas e fato de treino, à frente da ASAE, com ela a ver.

O Anjo da Guarda

Às vezes estou de frente, parecendo de lado; estando no entanto sentado paralelamente, ao som. Outras são as vezes – tantas − em que estou ou sou, fumo, pó. Quando assim é, tatuo-me de sombra e deixo-me estar.
“ Levanta-te e anda “, dizias-me tu antigamente ao ouvido, em sopros, e eu chorava “ Vá lá, vai para o pátio”. Eu na biblioteca, a namorar a contínua de longe “ Estão todos lá em baixo “, com medo do recreio, ou das pessoas que o habitavam, vem tudo a dar no mesmo. Tudo. O Espírito começava a gritar, ordenava, e eu a querer uma metamorfose, ou fuga e “Cala-te”.
Às vezes estou de lado, e assim vou continuar. Tu obedeces-te, Tu que eras do Pátio Celeste.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Henry Miller no seu melhor

Afinal " New York " é uma grande merda.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A estória continua

O telefone acordou-me às sete da manhã, assustei-me. Fui em direcção ao telemóvel a correr, atendi com receio da voz do outro lado. “ Bom dia” disse alguém, era um homem “ bons dias”, respondi, “estou a falar com o senhor João?”, a voz parecia mansa, amigável. Transportei o telefone comigo para a casa de banho, acendi um cigarro, “ sim sou o próprio. Em que lhe posso ser útil?”, fitei o espelho, esperei a hipotética transfiguração da minha cara, liguei a torneira. “ Olhe, daqui fala do hospital do Sul…”, comecei a tremer, o cigarro caiu no lavatório, agarrei-me à sanita “ as notícias não são as melhores, o seu pai acabou de falecer, os meus pêsames”. O telefone caiu, a casa de banho desaparece momentaneamente. Vem o pânico. Agarrei-me ao tronco ossudo, toco nas costelas, tento me reconfortar, nada acontece.
Acordo mais tarde, a Teresa esbofeteia-me, baptiza-me novamente, bidé como pia baptismal “ João acorda. Vá lá, não me faças isto, ACORDA”, eu a tentar levantar-me, agarrado às suas costas como bengala. Choro compulsivamente “ e agora? E agora Teresa, que será de mim?”. Levantámo-nos os dois, e ela a retirar os cabelos dos olhos -os meus-, olha-me com a sua firmeza habitual, repete-me incessantemente um “ Calma”. Perde-me por instantes nos meus soluços “conta-me tudo, com calma.”, sorri, perscruta-me os braços, acende-me um cigarro enquanto ajeita o cabelo, e em surdina “toma amor”. Agarro-a como se fosse a minha casa “telefona para o meu trabalho… telefona para o teu, não podemos ir”, não a estava a engrolar, ela sabia-o.
A Teresa tratou de tudo, como era apanágio nas nossas vidas. Tentou falar com a minha mãe, foi difícil e doloroso para a Teresa, jogo táctil realizado telefonicamente, subespécie de diálogo, lágrimas que eu não queria ouvir. Lavei a cara, pensei no meu pai a andar de bicicleta, deslindava-o entre os autocolantes da janela do meu quarto, esperava sem ele saber “faz bem chorar João, chora à vontade”. Gostava de o olhar, nunca lho disse, eram garfos que nos atravessavam as gargantas no momento dos supostos carinhos verbais “ calma amor, abraça-te a mim “, lavava a cara, ele sempre de bicicleta, vinha dos lados da Câmara “gostava tanto dele Teresa”.
Fui-me deitar com os seus olhos fugidios “dorme um bocadinho, vai-te fazer bem”.
Um ataque cardíaco, foi o que o matou, estava no escritório. “Estava sozinho?”, perguntei já mais calmo − o xanax xr resultava muito bem.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Babel

Tenho uma comissura entre as folhas de devoluções, “Auster para aqui, Onetti ali, e o Sebald, Hugo, Rennie Airth, Hesse, Moravia, Shepard, Mutis, Chris Petit, Ilse Pollack, Kaminer, e foda-se…”. Desramo os dias como num antelóquio ministerial. Dias com murídeos nos olhos, a traquinar entre as pestanas, cerrá-las às sete pancadas rítmicas.
As devoluções são Jim Black em catadupa, porradas no crash do ceroferário da Livraria.
“Se eu tirasse o doutoramento…”
“ Mais uma devolução. Podes separar?”, e nascem quadros nas coisas que agarram a Bertrand, Sodilivros, Centro Atlântico. Castelos nas minhas mãos caladas, cada vez mais caladas, são silêncio ou o desejo de o ser, “ Se eu continuasse a tocar…”.
Sou um hipomóvel sem cavalo.
Abre mais uma Livraria, e eu nada. Dizem que é assim, assado e tal, nada. Cartuxo até à medula. Se gosto de novidades? Virtualmente em segunda mão... gosto assim-assim.

Chá em Praga


Planificação da noite

Estás de preto outra vez, e fica-te bem deixa-me dizer. És tão bela nessa posse romântica, estrela noir de uma qualquer película fumarenta. Hoje não existirá lugar para a mentira. Estaremos os dois de trenchcoat,  a fumar para cima um do outro, e "ligas a música?", talvez. Descansaremos no sofá vermelho, virá o passado, presente; e mataremos as luzes, enchendo na penumbra o cinzeiro de segredos.
“ Não quero que nada disto acabe”, e eu só mãos, a tentar a tua cara ”viste o filme que anunciaram?”, calamo-nos. Adormecemos como dois gangsters, a planear a próxima noite.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Demónio a ler










Para quem se interessa pela estória da tirania, fique a saber: o DEMÓNIO lia -afinal não era a fingir.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

UM SINAL

Estou sempre a começar, recomeçar, rascunhar e apagar esta treta. Bom mas agora lá vamos, mesmo cheios de partículas vulcânicas no ar – ninguém me tira da cabeça que isto é obra e graça do Alexanderplatz (coisa fina, moderna). As historietas estão aqui: o je vai lançá-las à bruta.


Teresinha está sentada em frente do televisor, enrola-se num cobertor, bebe uma cerveja morna. Há pessoas a morrer à sua frente, atrás de si. Dário está calmo, sentado ao lado, quase vivo, quase morto, um cigarro entre os dedos amarelos.

- Tens frio?
- Eu não – diz a Teresinha enquanto se esfrega na manta às bolinhas amarelas. Prenda de casamento.
Calam-se os dois, cada um para o seu lado do sofá, da vida.
- Foda-se, sou estúpido ou quê? Se tás enrolada nessa merda, por alguma razão é!
- Não me chateies Dário.
Dário tosse durante algum tempo, acende outro Camelo, aproxima-se dela, belisca-a.
- Desculpa lá. Sou memo bruto às vezes . Quê que queres…tá-me no sangue – afaga-lhe os cabelos pretos, brinca com o nariz dela – é por causa daquela merda da porto editora…pode ser que não te despeçam.
- Sim, pode ser…que não, o Papa vem cá e tudo.
- Tás a ver, é um sinal essa merda. É UM SINAL. Até os sonic vem cá…é um sinal.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Se calhar não.

Eu queria acabar com esta merda.  A sério. Queria mesmo, categoricamente, assim pumba já está. Mas a minha mãe pediu-me: mãe é Mãe - acha que tenho queda para a coisa. Ora então vamos lá recomeçar, com historietas porreirinhas, com garra, vida: parvoíce com fartura, coisa fina. Uma cena moderna, modernaça. Prá frentex... Vamos ver.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Acabou

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A saga... sugestão

Nick Hornby e o último livro da  sua coluna na Believer. Um autor precisa de pão; dinheiro portanto. E só por acaso, vale a pena ler, mesmo muito a pena.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um começo

Mais uma tarde de Outono, daquelas em que o vento bate na janela socando-a com todas as forças de uma tempestade de Novembro, os carros na chuva lá fora, chuva e carros de dimensões magnificas. E eu por dentro com escritório como jardim cinzento, encharcado de água e cheiros a terras de um qualquer parque Inglês. Eu sentado à secretária, uma garrafa de água na mão, a olhar para os livros – por eles −, para janela, para o que se conseguia ver além dela, tudo sem tremer, sem me mexer da cadeira giratória. Os livros, por mais que tentasse não os ouvir, desafiavam-me a produzir mais um elemento para a biblioteca, e quem sabe para a dos outros. Em surdina murmuravam: “Só mais um livro João, é hoje que podes recomeçar a reprodução em papel”, e eu nada, a olhar para os gatos a dormir com as caudas arrumadas. Estava habitado de um pânico crescente, uma dor profundamente incomensurável como sempre que me encontrava frente a frente com a folha em branco. Acreditava e ainda acredito que esta situação é de uma de injustiça atroz, uma violência que corrói as vísceras do escrevinhador, uma batalha sangrenta onde caem no campo de batalha soldados desconhecidos, párias de vidas, homens e mulheres incógnitos com sangue nas mãos. Estava ou era − é sempre a mesma coisa − perdido comigo, um dos “Exploradores do Abismo”, de Vila-Matas, um escritor frustrado, vencido pelo medo e salvo às vezes pela parafernália de medicamentos que engolia sem medo para dentro do meu, desde sempre, pequeno estômago.
“As tardes são enormes coisas sem nada lá dentro”. Afaguei o cabelo com uma mão que ansiava por um cigarro há dez minutos. Levantei-me e comecei a procurar, em todos os bolsos do meu casaco já velho, o tabaco; encontrei-o e iniciei o ritual costumeiro da demanda do lume. O isqueiro em cima da mesa da cozinha, um exemplar que roçava o foleiro, acendi o vício e mais uma vez iniciei o sonho.
Olhei o tempo com um medo terrível de me esquecer de algum pormenor da minha vida de menino grande. A chuva fazia o seu trabalho, o vento ajudava, as janelas tremiam, “ João vem jantar”, e eu agarrado a elas com medo que as coitadas se transformassem em vidros. “ João anda comer” e eu sem fome, agarrado ao cigarro e à água com gás, a tentar mais uma vez equilibrar a ideia, a janela, e a água. O cigarro parado no cinzeiro, a canibalizar-se de dentro para fora “ já vou, só um minuto”, gritava eu a tentar esquecer-me da comida.
O vento acalmou, um silêncio nasceu, o vento, que é desde menino pequeno um grande amigo, adormeceu ao jantar.
Fumava e olhava para os livros; recordei sem querer as idas e vindas da escola pelo passeio do meu longínquo País do Sul. Todos os dias o mesmo passeio habitado de Sueste, o vento que o minava por dentro, que me ajudava a carregar e agarrar com muitos e saudáveis dentes o pirolito que sabia a mel: − o meu prémio pessoal por me ter “portado bem na escola”.
Recordei-me de alguns amigos da escola, de muitos não amigos, de nunca jogar no campo de futebol, só entre as oliveiras que faziam de baliza. O pacote de leite como bola, no intervalo de meia hora, às dez da manhã.
Nunca fui um grande jogador de futebol, nem um grande desportista, e assim eram as oliveiras goleadas pelos meus pequenos chutos.
A Teresa a gritar, os gatos acordam e esticam as pernas “ Estou a ir”, agarro-me à mesa e levanto-me com vontade de escrever. Fui para a sala, não trocamos palavras, sentei-me à sua frente, começamos a comer os escalopes. “Queres batatas fritas?”, e eu com os olhos de cão doente, disse que não, ou dei-o a entender, para desgosto e irritação da Teresa. “Não andas a comer nada, estás cada vez mais magro…”, não respondi, olhei para a carne com vontade de fugir. “ Ando sem fome, não sei o que é que se passa. Sei que não ando a ser uma grande companhia, e… Desculpa lá”, a mãos dela atravessaram a mesa, acariciaram-me a face ossuda, repetidamente sussurrou que tudo iria passar. Vieram os cafés, olhámos um para o outro sem pressa. Descansámos um no outro, pelo outro, o olhar. Beijámo-nos com bocas Sical, demoradamente, sem correrias. Fomos deitar.







terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Livros que gostaram de mim em 2009




É politicamente correcto, ou ordinariamente usual; costumeiro; pouco interessante, mas como em Roma ser romano, lá vou eu nos meus favoritos do transacto 2009:

Samuel beckett, The Letters of Samuel Beckett 1929-1940
Edited: Martha Dow Fehsenfeld; Lois More Overbeck
Cambridge

Tony Judt, O Século XX Esquecido - Lugares e Memórias
Edições 70
( trad. Marcelo Felix)

Juan Carlos Onetti, Os Adeuses
Relógio D´ Água
( trad. Hélia Correia)

W. G. Sebald, O Caminhante Solitário
Teorema
( trad. Telma Costa)

Robert Walser, Os Irmãos Tanner
Relógio D´ Água
( trad. Isabel Castro Silva)

Thomas Mann, A Montanha Mágica
D. Quixote
( trad. Gilda Lopes Encarnação)

Esther Leslie, Walter Benjamin
Fio da Palavra
( trad. Rui Mesquita)

Jack Kerouac, Tristessa
Relógio D´ Água
( trad. Paulo Faria)

Herberto Helder, Ofício Cantante
Assírio & Alvim

João de Melo, A Divina Miséria
D. Quixote

Juan José Millás, O Mundo
Planeta
(Luísa Diogo e Carlos Torres)

Thomas Bernhard, Os Meus Prémios
Quetzal
( trad. José A. Palma Caetano)

Robert Musil, O Homem sem Qualidades III
D. Quixote
( trad. João Barrento )

Lars Saabye Christensen, O Modelo
Cavalo de Ferro
( trad. Mário Semião)

Julio Cortázar, A Volta ao Dia em 80 Mundos
Cavalo de Ferro
( trad. Alberto Simões)

John Fante, Pergunta ao Pó
Ahab
( trad. Rui Pires Cabral )

Dag Solstag, Pudor e Dignidade
Ahab
( trad. Liliete Martins)

Arto Paasilinna, A Lebre de Vatanen
Relógio D´ Água






segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Blogue não lido

Como prémio do blogue menos lido, dedico eu autor, algumas musiquitas, a mim.